O que me levou a praticar artes marciais foi o medo. Eu seguia por caminhos de rebeldia e inconformismo que me colocavam em situações de conflito - minha língua era maior que o meu juízo - e aqueles eram os anos de chumbo, da ditadura no Brasil. Queria ser forte, corajoso, ter autoconfiança e me sentir seguro. Iniciei minhas práticas com o Judo, depois o Karate. Finalmente encontrei o Aikido - e o mestre, Reishin Kawai, que mudaria a minha vida e o meu conceito sobre a real finalidade dessas artes, revelando o que é conhecido no Japão como Budo, o Caminho do Guerreiro.
Kawai sensei demonstrava uma tal autoconfiança que impressionava quem o conhecesse e incomodava a alguns, que o julgavam arrogante. Para mim, que pude conviver trinta e cinco anos ao lado dele, essa autoconfiança era 100% fundamentada em seu espírito impecável na prática fiel do Budo, com uma imensa dose de auto sacrifício, exatamente o oposto do sentido de qualquer arrogância.
E o oposto do que eu havia encontrado em outros praticantes de artes marciais,
ansiosos por exibirem sua força e habilidades.
A sociedade ocidental se baseia em padrões de consumo que tornam inseguros e infelizes os que não puderem atingir os ideais de comportamento e beleza da moda.
Queremos ser “especiais”, atrair olhares de admiração e inveja e nos tornamos competitivos desde
crianças, atraídos pelo que nos chega do mundo, da família e da sociedade, através da mídia e da Internet.
Negociamos até os nossos mais íntimos sentimentos em busca de aprovação.